Constelação mostra que crimes sexuais podem ser consequência da exclusão do pai da vítima

Foram dois dias de trabalho com os membros das quatro instituições
Foi bastante rica em vivências a semana passada, quando realizamos em Rio Branco (Acre) dois workshops de constelações aplicadas à conciliação, à mediação e à resolução de conflitos. O primeiro em favor da Associação Beneficente Casa da União, realizado no auditório da Procuradoria-Geral do Estado, e o segundo, no Tribunal de Justiça do Acre, reunindo membros do TJ, do Ministério Público, da Procuradoria-Geral do Estado e da Defensoria Pública.
Constelação durante curso realizado no TJ-AC.
Durante três dias, muitos foram os aprendizados, com emoções fortes e libertadoras, mas vou mencionar aqui a constelação relativa a um caso criminal onde o réu é acusado de abusar sexualmente de 11 crianças. Ao colocarmos representantes para algumas das vítimas e suas famílias, observamos um padrão: em todas havia uma dinâmica de exclusão do pai da criança.
Inicialmente, as mães se posicionaram algumas olhando para um outro lugar (que não a filha) e algumas tentando proteger ou afastar a filha do pai. Em um certo momento, foi solicitado às mães que mostrassem às respectivas filhas o seu pai e que dissessem: “ele é o pai certo para você, e eu estou de acordo que você o tome como pai”. Algumas mães tiveram dificuldade em dizer isso. Mas, depois que o fizeram, em todas as famílias representadas o pai se aproximou e abraçou a filha, e tanto as filhas quanto as mães se sentiram mais seguras.
Faz sentido. Se uma menina não tem o direito de ter no coração o seu próprio pai como o pai certo para si, seja porque o pai não pôde estar presente, seja porque ele foi excluído, mesmo que de forma sutil e bem intencionada, pela mãe ou por outras pessoas, essa criança procurará o seu pai nos outros. Na melhor das hipóteses, terá dificuldades em seus relacionamentos, pois, inconscientemente, em cada homem procurará encontrar o pai, mas nenhum outro homem conseguirá substitui-lo – pois o pai é único. E ainda que o homem o tente fazer, a relação de casal será fatalmente desequilibrada e não será bem sucedida.
Porém a exclusão do pai pode ter consequências trágicas, como no caso visto nessa constelação. A exclusão do pai deixou as filhas vulneráveis e expostas ao crime sexual, sujeitas a facilmente aceitar e até mesmo buscar a atenção e o carinho de pessoas transtornadas.
Em um outro momento, na mesma constelação, as famílias se sentiram mais seguras também quando experimentamos colocar o representante do acusado na cadeia (esta também representada por uma pessoa). Mas ele não se mostrou arrependido ou regenerado, e sim agredido e injustiçado.
Workshop aberto à comunidade, realizado no auditório da Procuradoria-Geral do Estado do Acre
Ou seja, enquanto não conseguimos dar um tratamento adequado aos autores desse tipo de crime (e mesmo depois que o fizermos, se um dia isso for possível), a melhor e mais verdadeira defesa das crianças e jovens está na estruturação das suas famílias.
É claro que isso não reduz a responsabilidade do autor do crime, não substitui a atuação policial e judicial em relação a ele, nem elimina a necessidade de uma eventual abordagem punitiva, que deve ser acompanhada de algum tratamento que possa levá-lo a uma transformação positiva. Mas é necessário olhar também – e principalmente – para as vítimas e os que estão sujeitos a tornar-se vítimas, e buscar os recursos necessários para que se fortaleçam e possam sair da condição de vulnerabilidade.
Por isso é de grande importância o combate à alienação parental, ensinando as famílias a reconhecer o lugar do pai e da mãe na vida de cada um, e permitir que os filhos possam ter em seu coração um bom lugar para ambos, pai e mãe.
Os profissionais do direito, da mediação e da conciliação têm papel fundamental nesse trabalho, pelo contato direto com as pessoas que passam por litígios familiares e pela influência que podem exercer junto a elas. E, para que seja mais eficaz, o conciliador deve começar permitindo que as leis sistêmicas prevaleçam em seu próprio coração.
Membros do TJ, MP, DP e PGE realizam exercícios sistêmicos em grupos durante workshop
Fonte direitosistemico
Você tem questões em relação a abuso, agende a sua Constelação Familiar.
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